terça-feira, 11 de abril de 2017

Entre e-books e livros impressos, quem ganha a briga é o leitor

Os livros digitais não mataram (e não vão matar) os livros impressos. No mercado editorial, o digital é opção para o leitor, e não imposição


Por José Henrique Guimarães (*)

O mercado editorial brasileiro se tornou muito competitivo nos últimos 20 anos. A expansão do varejo físico no modelo de megastores, a ampliação dos canais digitais e a chegada ao Brasil de importantes grupos editoriais estrangeiros, rompendo com a longa tradição de empresas familiares no setor, contribuíram para mudanças sensíveis no setor. A evolução tecnológica trouxe também incertezas ao mercado nos últimos anos: o livro físico será substituído pelo digital? As livrarias irão fechar? Os e-books irão afetar o interesse pelas obras em papel?


Quando analisamos os números da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), que fazem parte do estudo “Dez anos de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro”, que inclui a década de 2006-2015, identificamos que as vendas tiveram um aumento significativo nesse período no País.


Em 2006, ano que marca o início do estudo, foram vendidos 193,25 milhões de exemplares. Em 2015, alcançamos 254,70 milhões. O preço médio do livro caiu de forma considerável, com uma redução geral de 36%, o que explica em grande medida a queda no faturamento no período, na contramão da produção. Em 2006, as vendas do setor foram de R$ 5,98 bilhões (em valores corrigidos). Em 2015, somaram R$ 5,23 bilhões. O que vale destacar é que o número de títulos produzidos saltou de 46.026 para 60.829 por ano.


Digital é opção; não imposição


Ao contrário do que aconteceu em outros setores, como na indústria fonográfica, onde a pirataria e o streaming praticamente mataram o mercado de CDs e LPs, os e-books não estão “roubando” muitos leitores dos livros tradicionais. Na hora de desfrutar do prazer da leitura, o tempo mostrou que a preferência é mesmo pelo bom e velho papel com o inebriante cheiro da gráfica, o que não significa que os eletrônicos não continuarão tendo lugar garantido na prateleira virtual dos e-readers, especialmente entre as atuais e futuras gerações que têm nos smartphones e tablets uma extensão do próprio corpo. A realidade é que a maioria dos leitores consome nas duas modalidades.


A gigante Amazon fez sua grande aposta, lá em 2007, nos livros digitais. Muitas editoras, empresas e os próprios consumidores surfaram essa onda e mudaram do físico para o digital, mas o fato é que o consumidor de e-book passou a enxergar o digital como mais uma opção, e não como uma única alternativa de leitura, e a indústria como mais um segmento, assim como o audiobook. 


Para ilustrar, no primeiro semestre de 2016, os e-books representaram 19,2% do mercado editorial americano, para obras de ficção e não ficção (conhecidas como tradebooks), enquanto os audiobooks, em franca expansão por lá, eram 8,6%.


Outro importante termômetro é que a Amazon passou também a investir no mundo físico e no fim do ano passado inaugurou sua primeira loja física nos Estados Unidos após 20 anos desde o início de suas vendas online. A Amazon também é líder nos segmento de assinaturas, com o pioneiro e líder absoluto Kindle Unlimited, após a falência da Oyster, a “Netflix” do livro, por conta de um modelo equivocado de política comercial. Vamos aguardar os próximos passos da varejista americana, mas tudo indica que o modelo de assinaturas continuará crescendo e se revelando uma tendência importante para os próximos anos. 


No Brasil, as vendas de livros digitais representam apenas 2,5%, de acordo com a Snel. Segundo o presidente do sindicato, Marcos da Veiga Pereira, nunca houve um crescimento exponencial e nem consistente por aqui. A Amazon, que domina esse mercado, não abre números de Brasil, mas estudos da empresa de pesquisa e consultoria Euromonitor, com base nos indicadores em e-readers, vislumbram um freio das vendas no Brasil. 


No entanto, está mais do que comprovado que não podemos (e nem devemos) desconsiderar a força do digital, principalmente porque o online facilitou o contato dos leitores com editoras e autores, além de permitir uma ampla divulgação e impulso nas vendas das obras. Além disso, os blogs e canais literários postam resenhas, anunciam lançamentos, divulgam autores e criam assim uma grande repercussão entre os leitores.           


Não importa se físico ou digital, o importante é a possibilidade de os dois coexistirem para atender seja quem prefira o papel ou a tela. Se o autor tem seu livro em ambos os formatos, aumenta as chances de ampliar sua legião de seguidores. No mercado editorial, o físico impulsiona o digital e vice-versa. O que conta, isto sim, é seguir ampliando a base de leitores brasileiros, que apesar de crescente ainda está longe das médias de países desenvolvidos. 


(*) José Henrique Guimarães é CEO e fundador do Grupo Acaiaca, distribuidor de livros impressos e digitais.


FONTE: Idgnow

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