quarta-feira, 5 de abril de 2017

Os limites do índice-h

Supervalorização do indicador que combina quantidade e qualidade da produção científica gera controvérsia


No final do ano passado, a revista Chemistry World, editada pela Royal Society of Chemistry, do Reino Unido, decidiu parar de publicar um ranking on-line que era sucesso entre os leitores. Tratava-se da lista, atualizada algumas vezes por ano, com mais de 500 pesquisadores altamente produtivos na área de química, aqueles que ostentam no currículo um índice-h maior que 55. A decisão de suspender o ranking foi uma capitulação às críticas de que ele dava ênfase demasiada a um simples indicador de desempenho, sem levar em conta outros aspectos da produção científica, e poderia induzir universidades e agências de fomento a tomar decisões simplistas ou equivocadas. O índice-h de um pesquisador é definido como o maior número “h” de artigos científicos desse pesquisador que têm pelo menos o mesmo número “h” de citações cada um. O primeiro do ranking da Chemistry World era George Whitesides, da Universidade Harvard, com índice-h 169. Equivale a dizer que ele publicou pelo menos 169 artigos que obtiveram, cada um, ao menos 169 citações em outros trabalhos. Para ter um índice-h elevado, é preciso publicar artigos que repercutam na comunidade científica. Se um pesquisador publica muito, mas é pouco citado, ou se recebe muitas citações, mas num número restrito de artigos que publicou, terá um índice-h baixo.


O índice-h foi proposto em 2005 pelo físico argentino Jorge Hirsch, professor da Universidade da Califórnia, San Diego, como uma ferramenta capaz de combinar quantidade e qualidade de produção acadêmica. Logo tornou-se parâmetro em avaliações e cartão de visitas de pesquisadores com desempenho destacado, e extrapolou sua utilização para além do desempenho individual: hoje há rankings do índice-h de universidades, países e revistas científicas. Segundo Henry Schaefer, professor da Universidade da Geórgia, Atenas, nos Estados Unidos, e responsável pela compilação da lista da Chemistry World, as críticas surgiram desde a primeira edição do ranking em 2007 e nunca cessaram. “O problema não era com o índice-h em si, mas com o ranking que supervalorizava esse indicador”, explicou.
O episódio da Chemistry World é revelador das vantagens e mazelas do índice-h, uma medida que ganhou aplicação generalizada por seus méritos – é fácil de calcular, baseia-se em critérios objetivos e resume num único número a produtividade e a relevância do trabalho de um pesquisador. Simultaneamente, seu uso tornou-se alvo de críticas por não levar em conta suas limitações. O próprio Jorge Hirsch admite um problema importante. “Deve-se sempre ter em mente que pesquisas fora do mainstream podem ser pouco citadas e subavaliadas por indicadores bibliométricos e merecem ser apoiadas financeiramente apesar disso”, afirmou à revista on-lineResearch Trends. “Um indicador bibliométrico deve ser sempre usado ao lado de outros indicadores, e com bom senso.”
Vejam a matéria completa da revista Fapesp aqui . 

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