Nova reitora da Unifesp diz que não vai deixar de lado as pesquisas em
Farmacologia
“É curioso, mas desde pequena eu gostava muito de ciência – além de bonecas e
carrinhos, claro. Lembro de pedir para meus pais comprarem na banca fascículos
de uma coleção sobre a vida de cientistas. Eu adorava ler aquilo e me imaginar
trabalhando num laboratório. Quando tinha entre 8 e 9 anos ganhei um presente
que me marcou: um microscópio de brinquedo com duas lâminas prontas para
observação da histologia de um inseto. Talvez por isso eu goste tanto de
microscópios e os use até hoje nas minhas pesquisas.
O cientista pode dar vazão à sua curiosidade por meio da pesquisa. E havia
muitas perguntas que eu queria responder na época do vestibular. Guiada por essa
vontade, procurei o curso de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto. No
segundo ano da faculdade eu já sabia que não queria ser farmacêutica ou
trabalhar em farmácia, a não ser que fosse de manipulação. Me interessei pela
pesquisa e fiz iniciação científica. Como gostava da parte laboratorial, me
especializei em Farmácia-Bioquímica.
A iniciação científica me deixou apaixonada pela farmacologia, área que exige
muitos conhecimentos de química, bioquímica, anatomia e fisiologia. Você usa
tudo isso para entender a ação dos medicamentos e fazer remédios cada vez mais
específicos e que produzam cada vez menos efeitos colaterais.
Decidi fazer pós e optei pelo mestrado da Unifesp, então Escola Paulista de
Medicina. O Programa de Farmacologia, fundado pelo professor Ribeiro do Valle,
era (e ainda é) de excelência e pioneiro na área. Estudei o mecanismo de ação
dos medicamentos em animais e humanos, algo considerado básico na
farmacologia.
No fim do mestrado eu comecei a lecionar no curso de Medicina da Universidade
São Francisco, em Bragança Paulista. Foi um desafio importante para minha
carreira. Eu tinha quase a mesma idade dos alunos! Peguei turmas com cem
pessoas, muito críticas e questionadoras, e eu precisava me esmerar para
responder às dúvidas.
Terminei o mestrado e comecei o doutorado. Mais ou menos no meio do curso,
passei no concurso da Unifesp para ser professora do Departamento de
Farmacologia. Daí fazer o pós-doutorado no exterior virou um caminho natural.
Era como uma exigência dos colegas para manter a excelência do programa de
pós.
Fiz um pós-doc em Biologia Celular na Universidade Thomas Jefferson, na
Filadélfia, e outro em Neurociência e Morte Celular no Instituto Nacional de
Saúde dos Estados Unidos, em Bethesda (Maryland). Percebi então por que o
pós-doc é importante: os cursos ajudaram a estabelecer e consolidar minha linha
de pesquisa. A partir dali comecei a trabalhar com neurociência, morte celular e
microscopia de alta resolução.
Veio o desafio de criar uma nova linha de pesquisa no meu departamento, para
me estabelecer como pesquisadora autônoma. A partir de 2000, tive de submeter
projetos para Fapesp, CNPq e Capes para conseguir recursos. Com a verba, montei
um laboratório de sinalização de cálcio e morte celular. Ao mesmo tempo,
participei de uma iniciativa pioneira na Unifesp: eu e minhas colegas Helena
Nader (presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e Alice
Ferreira fundamos um laboratório de microscopia confocal com equipamentos
ultrassofisticados à disposição de qualquer pesquisador. Vinha gente do Incor,
do Butantã e até do Rio para usá-los.
O laboratório multiusuários criou uma dinâmica muito interessante na Unifesp,
porque a pesquisa científica é baseada na colaboração, troca de informações e de
metodologias. Se o poder público investe na nossa formação e na compra de
equipamentos de grande porte, faz todo sentido que eu coloque eles e o
conhecimento que adquiri a serviço da sociedade brasileira.
Àquela altura eu já tinha formado doutores, uma das principais funções de um
professor pesquisador. E já tinha cursado os pós-doutorados. Me senti preparada
para a livre-docência. Foi muito trabalhoso. Fiz cinco provas muito intensas,
que exigiram meses e meses de preparação. Mas concluir o processo é muito
gratificante. Revisei tudo que tinha feito até o momento, reconheci as coisas
boas e redirecionei o foco para o que ainda precisava ser melhorado.
Claro que nesse percurso eu tive momentos de crises existenciais. Não comecei
minha carreira acadêmica sabendo que chegaria à livre-docência, mas no percurso
fui entendendo a necessidade de dar novos passos e tive cada vez mais certeza de
que seria pesquisadora e professora. Mesmo agora, como reitora, não quero deixar
minhas pesquisas de lado. A pesquisa e a ciência permitem que eu continue a
produzir e a repassar conhecimento, formando pessoas para a sociedade
brasileira.”
ONTEM E HOJE: AS MUDANÇAS NAS PAIXÕES E ÍDOLOS DE SORAYA SMAILI DESDE
OS ANOS 80
Eu lia Nietzsche, Jung e Gramsci
Eu leio Milton Hatoum e Hanna Arendt
Eu leio Milton Hatoum e Hanna Arendt
Eu acreditava que iria mudar o mundo
Eu acredito que estou mudando o mundo
Eu acredito que estou mudando o mundo
Minha preocupação era ter conhecimento e lutar por justiça
social
Minha preocupação é fazer que mais gente lute por justiça social e conhecimento
Minha preocupação é fazer que mais gente lute por justiça social e conhecimento
Eu via o Brasil como um país cheio de
contradições
Eu vejo o Brasil como parte do Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro
Eu vejo o Brasil como parte do Povo Brasileiro de Darcy Ribeiro
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